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Poética da Urbanidade - Estudos interculturais
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Materiais para as discussões do Colóquio Internacional de Estudos Interculturais (2004)

 

BOLONHA-SÃO PAULO NO PROGRAMA DE ESTUDOS INTERCULTURAIS "POÉTICA DA URBANIDADE" PELOS 450 ANOS DE SÃO PAULO

SIMBOLISMO COSMOLÓGICO DA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E A CIDADE ATUAL
Bolonha, 24 a 25 de outubro de 2003

Súmula

Reflexões urbanológicas levadas a efeito sob a perspectiva da ciência da cultura dirigem a atenção continuamente a aspectos simbólicos, sobretudo à inserção de concepções urbanas e arquitetônicas no conjunto das imagens de uma ordem simbólica da cultura. Pressuposto para o desenvolvimento dessas reflexões é, portanto, o exame dos vínculos existentes entre a arquitetura e as imagens do micro-e do macrocosmo na tradição do Ocidente e naquelas de outras origens que possivelmente influenciaram a formação dos grandes núcleos urbanos do presente.

Os estudos de história da arte e de arquitetura demonstram o íntimo relacionamento que houve entre as técnicas construtivas e a simbologia da construção dos mestres franceses medievais e a arquitetura da Pré-Renascença na Itália. Constatou-se a importância da triangulação e da ordenação por quadrados em plantas, prospetos, de estruturas e fachadas. Essa planificação geométrica revela não apenas evidentes conceitos de numerologia simbólica. Deixa entrever, também, conceitos geométricos de "quadratura do círculo", uma vez que as figuras geométricas inscrevem-se também em circunferências nas diversas ordenações do espaço. A partir dessas constatações, chegou-se à estruturação numérica de proporções que se situa à base dos projetos. O aspecto musical não pode aqui deixar de ser levado em consideração, uma vez que essas proporções incluem a medida harmônica ou musical, de fundamental importância na definição da música do passado.

A ordenação da fachada da catedral de Bolonha, particularmente estudada, indica que a mesma se insere, tal como a catedral de Milão, em um círculo cuidadosamente dividido em 12 segmentos que podem ser relacionados com os signos do Zodíaco. Assim. o vértice, o pórtico principal e os pórticos laterais e todos os demais elementos constitutivos da fachada correpondem a linhas que levam a determinados signos na circunferência que abrange todo o conjunto. Significativamente, portanto, toda a fachada representa o ciclo do Zodíaco e, concomitantemente, o ano natural com as suas estações e as suas correspondências relativamente aos elementos da matéria. Como todo o ciclo tinha caráter antropomórfico, a própria fachada da igreja pode ser compreendida como uma representação simbólica do homem nas suas implicações cosmológicas.

Os estudos de etnologia urbana considerados no Congresso de 2002 realizado pela Akademie Brasil-Europa demonstram, também, que a organização cosmológica é própria de muitas aldeias indígenas, por exemplo entre os Krahô. Neste caso, essa organização diz respeito não apenas à ordem do espaço mas também à ordem simbólica da sociedade com a sua binaridade no sistema de relações. Essa dualidade, nas suas implicações com questões de gênero (gender) foram debatidas em outros eventos e seminários.

Grandes cidades latino-americanas, entre elas sobretudo São Paulo, nasceram em meio a processos de catequese de indígenas socializados primeiramente segundo ordenações simbólicas. Os métodos utilizados pelos jesuítas para a mudança de identificação cultural dos indígenas levaram, certamente, a uma transformação profunda desses mecanismos de socialização e de orientação quanto ao espaço no seu todo e nas suas implicações sociais. Até que ponto, porém, poderia ter havido uma sobrevivência de antigos critérios de organização espacial? Essa questão, de difícil resposta, sugere outros e diversificados problemas dignos de serem analisados. Se, por exemplo, na própria construção de igrejas católicas pode-se comprovar a existência de vínculos cosmológicos, quais seriam os modêlos encontrados nas construções religiosas dos diferentes séculos? Por fim e sobretudo: quais seriam as possibilidades de análises do relacionamento entre a cidade ou partes dela com a cosmologia, com as estações do ano e com o movimento do sol e de outros planetas no decorrer do dia e do ano? Tais estudos poderiam talvez abrir portas para novos estudos da Poética da metrópole, contribuindo à percepção ou à criação de significados em situações urbanas que prejudicam ou impedem processos de identificação cultural e/ou diferenciadores.

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