São Paulo 450 Anos
Poética da Urbanidade - Estudos interculturais
Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência
Akademie Brasil-Europa für Kultur- und Wissenschaftswissenschaft
© 2004 » A.A.Bispo. Todos os direitos reservados.
» Reflexões em diversos contextos-
» Projeto: Urbanologia e Análise da Arquitetura
-» Colóquio 2004-
» Academia Brasil-Europa
Materiais para as discussões do Colóquio Internacional de Estudos Interculturais (2004)
PARIS-SÃO PAULO NO PROGRAMA DE ESTUDOS INTERCULTURAIS "POÉTICA DA URBANIDADE" PELOS 450 ANOS DE SÃO PAULO
POÉTICA E PERCEPÇÃO DO QUE MOVE E IMPELE
Paris, 20 de decembro de 2002 a 1 de janeiro de 2003
Súmula
As relações entre o urbanismo e a percepção, também sob o ponto
de vista da percepção musical, foram estudadas pela primeira vez
em São Paulo, no início da década de 70. De forma experimental
foi objeto de pesquisas psicológico-educativas no Laboratório
de Percepção Sensorial do Centro de Pesquisas em Musicologia da
Sociedade Nova Difusão Musical, em colaboração com o Conservatório
Musical do Jardim América, em 1971. Os resultados desses trabalhos
foram aplicados, em 1973 e 1974, sob a mesma orientação, em cursos
de Percepção e Estética da Faculdade de Música e Educação Artística
do Instituto Musical de São Paulo.
As reflexões atuais dirigem-se sobretudo à percepção mais sutil
e diferenciada de qualidades quase que atmosféricas que permitam
detectar a urbanidade de espaços urbanos. A atenção tem sido dirigida
aos impulsos que a cidade grande oferece ao homem, ao movimento
que nele desencadeia. Um dos fascínios das metrópoles residem
sobretudo no saciar desejos por novidades e novas motivações.
Um ponto de partida para reflexões oferecem a obra e o pensamento
do arquiteto francês Jean Nouvel. Segundo ele, "un bâtiment doit
donner à sentir les soubresauts dune époque". O interesse concentra-se
não apenas no fato de Jean Nouvel procurar imbuir-se do espírito
de sua época e utilizar-se das mais atuais possibilidades construtivas
e técnicas, o que faz que seja incluído entre os arquitetos identificados
com a tecnologia de ponta, ou seja, o High Tech. A questão principal
é outra, ou seja, a diferença existente entre um "espírito do
tempo" e o conceito que utilizou, ou seja o de "sobressalto".
Essa sutil diferença marca o caminho para novas reflexões: atenta-se
não a um continuum de um espírito do tempo, mas sim a sobressaltos
percebidos e, portanto, a mobilidades determinadas por discontinuidades
e rupturas. A criação de significados situa-se no centro das reflexões,
ou seja a Poética do arquiteto que utiliza com sensibilidade as
formas mais avançadas da tecnologia avançada.
Objeto exemplar para estudos é o Institut du Monde arabe (IMA),
em Paris, construído em 1987. Esse edífício, um dos grandes projetos
de Estado, considerado como a obra mais significativa de Nouvel,
compreende um auditório, uma biblioteca, um centro de documentação,
um museu e um restaurante, do qual podem ser avistados os telhados
da metrópole. A solução encontrada por Nouvel para a instalação
desse centro mundial de representação e estudo da cultura árabe
é de grande relevância sob o ponto de vista de seus pressupostos
culturológicos. Longe de empregar referências etnográficas, integrou
Nouvel na sua obra um elemento que passa a ser imediatamente identificado
com o mundo árabe, ou seja, diafragmas variáveis que, em painéis
estruturados geométricamente com polígonos, controlam termicamente
o ambiente, deixam transparecer a luz e a projetam nos corredores
e paredes internas. O edifício tem uma parte destinada às exibições,
envidraçada, separada por um "canyon" interno do prédio principal.
Ele impõe-se não apenas pelo emprêgo da mais avançada tecnologia
construtiva e pela riqueza dos detalhes correspondente à riqueza
dos objetos expostos. O mundo árabe não é apenas apresentado como
estando no ápice das tendências mais avançadas do tempo. Ele se
apresenta, nas transparências e jogos de luz do edifício, como
identificando-se interiormente com um mundo de luz interno.
Nessas e outras considerações, surgiu naturalmente a questão de
como seria um "Instituto do Mundo Brasileiro" ou um centro de
estudos europeu da Academie Brasil-Europa em Paris. O projeto
de construção de um centro amazônico na capital da França é de
longa data. Por ela muito propugnou F. de SantAnna Nery em fins
do século XIX. Quais seriam agora, a exemplo da obra de Nouvel,
as possibilidades de conexão entre as mais avançadas possibilidades
tecnológicas e critérios culturais identificáveis com o Brasil?
Quais seriam as imagens de si e aquelas a serem apresentadas ao
mundo? Seria também apenas uma questão de luz na poética de construção
desse centro? Talvez referências às sombras e aos raios de luz
através das florestas?
A percepção do que move na metrópole é dirigida sobretudo à luz.
A luz adquire, sob o aspecto das ciências da cultura, um papel
de alta relevância, pois é relacionada com a cidade espiritual
ou celestial. Essa luz transpassaria o mundo da temporalidade,
o das águas, em contínuo movimento, mundo no qual o homem está
submerso. Luz e movimento estão, assim, intimamente relacionados
entre si. A percepção das relações e da movimentação da luz no
espaço arquitetônico, porém, não pode se resumir à luz física.
Trata-se, antes da luz da mente. Assim, novos critérios se abrem
à percepção e à poética da urbanidade e novos critérios poderiam
ser encontrados no caso da edificação de uma centro de estudos
da Academia Brasil-Europa em Paris.
Antonio Alexandre Bispo