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Poética da Urbanidade - Estudos interculturais
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Veneza
Materiais para as discussões do Colóquio Internacional de Estudos Interculturais (2004)

 

VENEZA-SÃO PAULO NO PROGRAMA DE ESTUDOS INTERCULTURAIS "POÉTICA DA URBANIDADE" PELOS 450 ANOS DE SÃO PAULO

CAMINHOS DA ARQUITETURA NO PRESENTE E A CULTURA
Veneza, 1 de outubro de 2003

Súmula

 

No seu livro "Sulle orme di Palladio: Ragioni e pratica dell’architettura" (Roma-Bari:Laterza, 2000), Vittorio Gregotti, professor em Palermo, desde 1964, posteriormente também em Veneza, fala da existência de 4 caminhos na arquitetura atual.

O primeiro seria aquele percorrido por arquitetos que pensariam em enraizar novamente a arquitetura nas necessidades sociais. O segundo seria o da redescoberta da história e da memória. O terceiro, caracterizar-se-ia pela tentativa de revitalização da vanguarda. O quarto, traria como marca a fé na tecnologia ou na sua mimesis.

Para Gregotti, todos esses caminhos ofereceriam percalços e não levariam a soluções definitivas. O primeiro caminho, por exemplo, seria dificultado pela divergência existente entre a cultura dos arquitetos e aquela dos políticos. A ele se deveria, porém, um certo aumento da sensibilidade coletiva por questões do relacionamento entre a arquitetura e o meio ambiente.

A segunda via teria como mérito o de ter colaborado para a conservação de valores monumentais da cidade; levara, porém, ao cultivo de um espírito reacionário, representando as novas condições do capitalismo pós-moderno.

A terceira via, a da nova vanguarda, representaria apenas uma outra face da anterior, sendo também ela uma interpretação da globalização de mercado. O banal, o kitsch e o decorativismo seriam elementos dessa nova linguagem.

A quarta via, por fim, seguida por renomados arquitetos, consideraria a alta tecnologia como sistema de valores que poderia trazer soluções também para o plano social.

Haveria, naturalmente, uma quinta via, mais próxima da tradição do Modernismo, ou seja, a da simplicidade, a da clareza, da organicidade, da responsabilidade e da durabilidade. Essa via levaria ao projeto concebido como diálogo com o existente e também ao reconhecimento da distância entre esse e o novo.

Para Gregotti, os anos atuais seriam marcados por incertezas, pois haveria falta de grandes modelos formais, como no Classicismo, religiosos, como no Cristianismo da Idade Média, ou civis, como no Iluminismo. Além dessas inseguranças, haveria uma incerteza interna, própria do campo disciplinar.

O primeiro conselho de Gregotti diz respeito à economia dos meios expressivos, ou seja, ao uso mínimo de meios necessários para a construção de uma obra em relação às suas próprias leis constitutivas. Essa lei levaria ao senso da medida. A liberdade expressiva surgiria segundo a medida e a necessidade. A construção deveria ser feita com o menor rumor possível. A principal regra para aquele que se propusesse a trabalhar criativamente seria a de fazer silêncio para poder estar atento e capaz de ver pormenores e ver através das coisas. Essa economia de meios significaria também evitar esquemas e caricaturas, produtos da superficialidade e do sensacionalismo.

O segundo conselho seria o da manutenção do equilíbrio entre os meios e o seu emprêgo, entre as intenções e a escolha dos instrumentos adequados, entre as relações dos pormenores e o conjunto.

O terceiro conselho seria o da observação da organicidade na obra, partindo da maneira com que esta dá uma resposta significativa aos problemas que encontra. Diria respeito à correspondência entre as partes, ao relacionamento entre o exterior e o interior, assim como à capacidade de expressar bem o que foi pretendido, tornando-se, assim, objeto de interpretações.

O quarto conselho de Gregotti diz respeito ao relacionamento entre a regra e a exceção. A regra não significaria imitações acadêmicas, mas sim seria um sistema de referência.

O quinto conselho seria o concernente à importância do contexto no qual a obra se insere.Seria um êrro crer que fosse possível deduzir da leitura do contexto as leis da composição. O projeto se apresentaria como uma constituição criada a partir de uma distância crítica com relação ao contexto. Este modificar-se-ia através do diálogo.

Os ensinamentos de Gregotti culminam com a advertência a respeito das limitações das possibilidades de ação do arquiteto. Dever-se-ia sempre pensar que há no mundo muitas cidades de mais de 10 milhões de habitantes, que mais da metade dos povos da terra não possuem serviços elementares e que na China serão construídos nos próximos anos mais de 3 milhões de metros cúbicos de habitações.

Para Gregotti, cultura não seria apenas informação, ainda que indispensável, mas sobretudo organização do saber e da experiência do ponto de vista de uma disciplina como esta se apresenta historicamente. Ela seria também construção que dá um sentido geral às ações. Cultura seria refletir sobre as relações entre as experiências do mundo e as nossas experiências, construíndo a partir daí o sentido. Cultura significaria, assim, dar um senso, orientar as informações e as habilidades para um centro.

Antonio Alexandre Bispo

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